sábado, 27 de dezembro de 2014

Porto de Mariel é cubano


Porto de Mariel é cubano*

Marco Milani

Diante das notícias sinalizando a aproximação diplomática dos EUA com Cuba, algumas vozes brasileiras são ouvidas enaltecendo a iniciativa de se financiar a construção do Porto de Mariel. Para elas, o Brasil será beneficiado por ter transferido recursos para o porto cubano. Será mesmo?

Primeiramente, deve-se destacar que o Brasil não terá qualquer participação na administração portuária, a qual ficará a cargo da empresa PSA de Cingapura.

Com relação aos potenciais negócios com a ilha, não se pode esperar relações comerciais mais vantajosas ao Brasil do que se teria com qualquer outro parceiro da América Latina. Ao contrário, considerando a afinidade ideológica de nossos atuais governantes com o socialismo cubano, é de se esperar que o beneficiado seja a própria Cuba diante de concessões a serem feitas pelo Brasil.

Geograficamente, nenhum exportador brasileiro escoará produtos por Mariel. Ele terá que usar um dos sucateados portos existentes em território nacional e não reduzirá em nada o seu custo logístico.

Juridicamente, a falta de transparência dos contratos secretos firmados entre Brasil e Cuba têm sido objeto de grande desconfiança. A população brasileira não conhece as cláusulas contratuais envolvendo Mariel e tal fato permite inúmeras especulações, inclusive sobre o risco de não se receber os valores transferidos.

Assim, com exceção daqueles que estão ávidos por achar alguma notícia que possa justificar o financiamento bilionário do BNDES à Cuba, não devemos nos deixar levar por empolgados e superficiais discursos de que o Brasil acertou ao transferir escassos recursos públicos à ilha caribenha, pois os nossos portos estão carentes por investimentos e permanecem encarecendo e reduzindo a competitividade de nossos próprios produtos.


* Texto publicado no jornal Correio Popular (Campinas/SP), edição impressa, 22/12/14, p. A2.

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